En esta ocasión quiero comentar acerca de un tema emblemático, un clásico brasilero, que considero un ejemplo brillante de arte y de conciencia de clase.
De cómo la forma, la estética de una composición musical completa y complementa el mensaje deslizado en la letra. De cómo construimos socialmente los relatos y cómo podemos reflejar una situación, un sentir, un momento determinado vivido por las grandes mayorías explotadas y desposeídas.
El autor es Chico Buarque, uno de los más reconocidos autores brasileños que en este tema tan particular titulado Construçao (construcción) nos muestra con su particular sentido estético su profunda sensibilidad social y su compromiso militante.
Prefiero primero replicar aquí la letra y les invito a escuchar atentamente la música para disfrutarlo y también hacer su propia experiencia de escucha. Luego les comparto mi breve análisis al respecto.
Que lo disfruten.
Construçao (Chico Buarque, 1971)
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça desgraça que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague
Breve análisis personal de esta obra
La pieza cuenta con una cadencia y un ritmo monótono acorde a la aplastante monotonía de la miseria que sufre la familia del protagonista. Va a desarrollar tres versiones de la misma situación trágica. La primera parece ser la descripción de un trágico accidente donde se pone el acento en cómo lo relataría el obrero protagonista si sobreviviera. La segunda parece ser la descripción de un familiar o amigo de la tragedia, dónde se nota un punto de vista externo al suceso pero aún sentido, atravesado por el dolor de la pérdida de alguien querido, cercano. En tanto que la tercera descripción es la más lejana y despersonalizado, tan cruda como fría y breve, casi como una noticia más comentada sin empatía, algo que conecta y señala a la dictadura vigente durante la época que se compuso esta canción.
Precisamente este orden dado permite entender el mecanismo de deshumanización que transforma un hecho desgarrador y conmocionante, movilizador, en una simple noticia que pasará desapercibida.
Mediante un lenguaje mordaz e irónico se produce la ruptura en las siguientes estrofas, pasando incluso a la declaración y la denuncia. Aquí claramente se expresa el autor tomando postura frente al hecho, sin concesiones. Transformando el final de la canción en una declaración de principios que se desprenden de las evidentes ironías de cada estrofa.
Comentarios
Publicar un comentario